
Uma análise aprofundada das perspectivas de crescimento, estratégia de alocação de capital e inovação da Constellation Software, diretamente do Shareholder Meeting 2025.
Visão Geral do Evento e Performance da Ação
O Constellation Software Inc. (CSU) Shareholder Meeting 2025 foi um evento de três horas com uma intensa sessão de Perguntas e Respostas. Todos os pontos críticos para os investidores foram abordados. O encontro contou com a presença de figuras proeminentes como Mark Leonard, John Billowitz, Bernie, Jamal, e líderes das OGs como Jeff Bender (Harris), Daimen (Vela), Mark Miller (Volaris), Neylam (Lumen), Robin (Topicus) e Berry (Jonas). A abordagem pragmática e disciplinada da CSU foi reafirmada.
Apesar de uma queda de 3,77% na ação no dia do evento, a análise da Taxa Interna de Retorno (TIR) ainda indica um potencial de aproximadamente 10%. Com alguns ajustes, esse valor pode variar entre 9% e 11%, demonstrando a resiliência da empresa em um cenário de mercado dinâmico.
O tom do evento foi de disciplina na alocação de capital. Houve desestímulo a investimentos em P&D excessivamente ambiciosos ou múltiplos de avaliação inflacionados. A ênfase recaiu sobre a paciência, a experimentação controlada e o uso da cultura organizacional para compartilhar as melhores práticas entre suas Operating Groups (OGs). Embora não tenha sido um evento “animador” no sentido tradicional, a transparência e a experiência dos líderes foram consideradas uma valiosa lição em gestão disciplinada.
Insights Cruciais sobre a Avaliação da Ação e “Style Drift”
Durante a sessão, Mark Leonard sugeriu que o mercado pode estar superestimando o valor da ação da CSU. Ele indicou que, para a empresa considerar a compra de suas próprias ações com seu “hurdle rate” interno, o preço de mercado deveria ser significativamente menor. Segundo o modelo de valuation da CSU, para atingir uma TIR de 25%, o preço da ação precisaria cair cerca de 50% do valor atual. Isso ressalta a rigidez da empresa em seus critérios de investimento.
Um ponto de destaque foi a discussão sobre o conceito de “Style Drift“. A CSU está expandindo seu escopo de aquisições para além do software puro, explorando empresas com componentes híbridos de hardware, pagamentos e serviços. Essa mudança estratégica também inclui a busca por novas geografias, como mercados na Europa e EUA, que, embora mais competitivos para M&A, oferecem novas oportunidades de alocação de capital.
Mark Leonard também observou que o ritmo de “small acquisitions” está desacelerando. Ele mencionou que a alocação de USD 800 milhões anuais em pequenas aquisições já seria considerada um excelente resultado. Essa observação reflete a dificuldade crescente em encontrar oportunidades atraentes no segmento de pequenas empresas.
Principais Seções do Q&A
A sessão de Perguntas e Respostas foi estruturada em cinco seções principais, oferecendo uma visão abrangente das estratégias e perspectivas da CSU:
- M&A Strategy – Estratégia de Fusões e Aquisições
- Large M&A – Grandes Fusões e Aquisições
- Operations – Operações
- Tech Innovation – Inovação Tecnológica – Inteligência Artificial
- Outras – Miscelânea
Estratégia de Fusões e Aquisições – M&A Strategy
Esgotamento de Oportunidades de M&A? Mark Leonard enfatizou que a CSU nunca acertou previsões sobre o esgotamento de seu pipeline de M&A. Dezenas de milhares de prospects ainda são monitorados anualmente. Contudo, o “Style Drift” está acontecendo, com oportunidades menos atraentes do que há uma década. Isso ocorre não em termos de retorno, mas de geografia e tipo de negócio (híbridos de software, hardware, serviços, pagamentos). As taxas de retorno, no entanto, permanecem sólidas, e a CSU explora ativamente novas adjacências e formas de alocação de capital.
Concorrência de “Copycats” e PEs: A CSU analisa a concorrência trimestralmente. Embora o custo de realizar pequenas aquisições seja alto, a vantagem da Constellation reside na capacidade de diluir esse custo ao longo de um relacionamento de longo prazo com a empresa adquirida. O crescimento da alocação em pequenos negócios está desacelerando, mas a meta de USD 800 milhões anuais em pequenas aquisições é vista como excelente. A competição de Private Equities (PEs) é um fator, impulsionada por capital barato de lenders mais lenientes. A CSU monitora o aumento das taxas de crédito C, aguardando impactos na liquidez.
Impactos Macroeconômicos: Não há impacto visível no ritmo de M&A. Em momentos de incerteza, fundadores preferem esperar para vender seus negócios, mas há um aumento de spin-offs e carve-outs, o que favorece deals maiores. Robin (Topicus) e Jeff Bender (Harris) compartilharam perspectivas semelhantes sobre a competição em suas respectivas geografias, destacando a resiliência da CSU e a capacidade de encontrar valor em novos segmentos e regiões.
Movimento para Adjacências:
- Robin (Topicus) mencionou o interesse em auto loans, um segmento atraente e próximo ao core business.
- Barry (Jonas) destacou o valor potencial dos pagamentos, uma área que será expandida.
- Neylam (Lumen) não vê “copycats” em comunicações. Isso se deve às altas barreiras de entrada e à possibilidade de adquirir ativos de M&A que não deram certo a taxas favoráveis.
Acompanhamento das Investidas: Com mais de 100 aquisições por ano, o acompanhamento individual é inviável. A CSU monitora o Incremental Capital Deployed e o Incremental Return, realizando análises de cohorts. A confiança na ponta é crucial para garantir que as decisões de alocação sigam o “hurdle rate” estabelecido.
Hurdle Rate Atual: Mark Leonard reiterou que tentativas anteriores de reduzir o “hurdle rate” resultaram em retornos menores sem acelerar a alocação. A CSU continua sendo diligente e criativa na alocação de bilhões, explorando “diferentes sabores” de alocação de capital, embora não tenha divulgado detalhes.
Grandes Fusões e Aquisições – Large M&A
Aquisição da Asseco: Robin classificou o acordo com a Asseco como “excelente”, uma aquisição para ser mantida permanentemente. Não há planos de consolidar os negócios; a ideia é valorizar a parceria e aprender com o modelo federado da Asseco na Europa. O “mark-to-market” será um efeito contábil, sem impactar o caixa. Outras OGs, como a Harris (Jeff Bender), estão explorando modelos semelhantes.
Cipal (Bélgica): A aquisição da Cipal, provedora de serviços para o governo local na Bélgica, está aguardando aprovação, e a CSU está confiante.
Altera e Queda na Receita: Jeff Bender expressou satisfação com a Altera, apesar da queda na receita devido a clientes que já haviam anunciado saída. A empresa está investindo em novas iniciativas para retomar o crescimento, focando em nichos onde pode agregar valor e investindo apenas em P&D que gere valor. O desafio cultural é significativo, mas a CSU está aprendendo e aplicando essas lições em futuras aquisições. A dívida da Altera é mantida a baixo custo, e a empresa gera muito caixa, apesar de ter um balanço mais complexo.
Bernie sobre Grandes Aquisições: Os preços de grandes ativos aumentaram dramaticamente em leilões, mas muitos não se concretizam. Oportunidades surgem quando esses ativos ficam de lado por um ou dois anos, permitindo que a CSU aloque capital em suas taxas. A identificação desses casos depende da presença de pessoas qualificadas nos lugares certos.
Racional para Spinoffs: Spinoffs são realizados apenas quando necessários para criar um negócio maior em parceria com outro player, algo que não seria possível de outra forma. O foco da CSU é a alocação de capital.
Conduent (Curbside): Mark Miller descreveu a aquisição da Conduent (Curbside), que fornece sistemas de transporte para cidades, como um “carve-out” que exigiu muito trabalho para ser revertido. O desafio reside na natureza híbrida do negócio, que inclui a entrega de hardware, introduzindo complexidade na gestão de capital de giro, manutenção e substituição. A CSU prefere negócios com hardware e software proprietários, mas reconhece a dificuldade de gestão no balanço. Mark Leonard diferenciou a preocupação do “business people” com a Demonstração de Resultados e a dos “allocators” com o Balanço Patrimonial.
Operações – Operations
Integração de Práticas de Crescimento Orgânico (TSS e CSU): Não há uma integração forçada de práticas, pois as empresas podem operar de maneira diferente. No entanto, as melhores práticas são compartilhadas, com a TSS sendo referência em crescimento orgânico.
Dívida: A CSU não é contra o uso de dívida, desde que a operação esteja bem estruturada e faça sentido.
Redução da Exigência de Reinvestimento em Ações para Bônus de Funcionários: A exigência de 75% de reinvestimento em ações no bônus dos funcionários não está sendo reduzida. Em vez disso, a CSU está testando opções de alocação de capital para funcionários em subsidiárias, o que é complexo fiscalmente. O objetivo é aumentar o alinhamento, permitindo que os funcionários invistam em suas respectivas subsidiárias, o que os aproxima das decisões de alocação.
Crescimento Orgânico: Um experimento para aumentar o valor do crescimento orgânico no bônus está gerando resultados muito positivos e pode ser implementado de forma mais ampla. A CSU espera que o crescimento orgânico supere a inflação.
Inovação Tecnológica – AI
A discussão sobre IA revelou uma mistura de cautela e otimismo. Mark Leonard dedica metade do seu tempo à alocação de capital e a outra metade à IA, indicando tanto uma oportunidade quanto uma preocupação. A abordagem será pragmática na alocação de recursos.
Perspectivas Divergentes:
- Dexter (conselho) comparou a IA a outras mudanças tecnológicas, destacando as altas barreiras de entrada de software devido ao tempo de desenvolvimento. A CSU, como uma “Network of Learning”, explorará “low hanging fruits” e se adaptará.
- Barry acredita que a IA acelerará o desenvolvimento de software, reduzindo o tempo de produção de 5-10 anos para 1-2 anos, diminuindo as barreiras de entrada. No entanto, a CSU adicionará novas barreiras com serviços e produtos aprimorados.
- Jeff Bender mencionou a “paranoia” interna, com fóruns de compartilhamento sobre IA.
Dados e Aplicações: Dexter enfatizou a necessidade de dados para a IA e a complexidade de vender, treinar e aplicar conhecimento da indústria. A IA é eficaz em ramos específicos, mas não em ambientes mais complexos. Em segmentos de nicho, como o de celulose e papel, onde o desenvolvimento levou anos, a IA oferece uma oportunidade para a CSU aprimorar soluções existentes. A abordagem da CSU é descentralizada: cada empresa adotará a IA conforme sua necessidade, compartilhando as melhores práticas, sem investimentos em experimentos caros, focando em “use cases” concretos.
Impacto e Oportunidade: Mark Leonard confirmou que centenas de pessoas já usam IA internamente, tanto no desenvolvimento quanto no atendimento ao cliente. A IA para suporte é relativamente simples de treinar e implantar e está sendo adotada em praticamente todos os lugares. A IA pode ser uma ameaça para pequenos times de desenvolvimento, mas uma oportunidade para empresas com know-how tecnológico e da indústria, como a CSU, para oferecer produtos aprimorados. A customização é vista como uma proteção contra modelos SaaS lightweight com alto churn. A IA pode reduzir custos de customização em até 50%, gerando valor significativo. Robin destacou o papel da CSU como “trusted partner” para seus clientes, que buscarão soluções de IA através de sua ampla rede de distribuição.
Miscelânea – Outras
Recompra de Ações (Buybacks): Mark Leonard expressou sua aversão a recompras de ações, considerando-as injustas para investidores que vendem sem saber que a empresa está comprando. Ele também não vende ações e espera que o valor da CSU gire em torno de seu valor intrínseco. Sua declaração “Se você quiser 5-8% de retorno, compre no mercado; se quiser nosso hurdle, tem que comprar nossa ação bem abaixo do valor atual” reforça a disciplina da CSU.
Ameaça de Competição por Funcionários: A CSU possui cláusulas contratuais que proíbem investimentos por um tempo após a saída de funcionários. No entanto, o foco principal é garantir que a Constellation seja um excelente lugar para trabalhar, incentivando os funcionários a buscar oportunidades de crescimento e financiamento internamente, em vez de recorrer a financiadores externos.
Conclusão
O Encontro com Acionistas da Constellation Software Inc. (CSU) em 2025 reforçou a imagem de uma empresa com gestão altamente disciplinada e pragmática. As discussões sobre a estratégia de M&A, o “Style Drift” para adjacências e novas geografias, a abordagem cautelosa e estratégica em relação à IA, e a valorização do alinhamento cultural e financeiro com seus funcionários, pintam um quadro de uma organização focada na criação de valor a longo prazo e na sustentabilidade de seus retornos. A transparência sobre a avaliação da própria ação e a rigidez no “hurdle rate” são indicativos claros da filosofia de investimento da CSU.
Leitura Complementar e Recursos
Para aprofundar seus conhecimentos sobre a Constellation Software, confira também:
- Visite o site oficial da Constellation Software Inc. para mais informações.
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