
A gigante dos chips entrega crescimento explosivo com IA e software, mas a análise do valuation acende um alerta: entenda os detalhes.
A Broadcom divulgou os resultados do seu segundo trimestre fiscal de 2025, e os números confirmam uma trajetória firme, com um guidance (projeção) especialmente forte para o segundo semestre de 2025 e para o ano de 2026.
Nossa análise detalha um crescimento sólido na receita, impulsionado pela aquisição estratégica da VMware e pelo forte no segmento de Inteligência Artificial. No entanto, alguns pontos de atenção nas margens operacionais e o valuation atual da companhia exigem um olhar mais atento.
Desempenho Geral: Receita e Segmentos em Destaque
A receita consolidada da companhia apresentou um crescimento de 20,2%, superando ligeiramente nossas expectativas (+0,6%) e o consenso de mercado (+0,2%).
Este avanço foi sustentado por dois pilares principais:
- Soluções de Semicondutores (Semiconductor Solutions): Cresceu 16,7%, com uma dinâmica interna clara:
- Semicondutores para IA (AI Semiconductor): Um salto impressionante de +43% em relação ao ano anterior (e +60% na primeira metade do ano fiscal).
- Semicondutores Não-IA (Non-AI Semiconductor): Apresentou uma queda de -4% no mesmo período, conforme esperado.
- Software de Infraestrutura (Infrastructure Software): Com a VMware como protagonista, a receita deste segmento cresceu 24,8%. Este foi um crescimento 100% orgânico, fruto da bem-sucedida migração de clientes do modelo de licença perpétua para o de assinatura.
Nota: A estratégia de migração da VMware, liderada por Hock Tan, foi alvo de críticas nos últimos dois anos. A transição forçada, que por vezes representou um aumento de custo de até 300% para os clientes, gerou controvérsia. Contudo, os resultados mostram o acerto da decisão: 87% dos 100 mil maiores clientes já migraram, e a crescente demanda por rodar aplicações de IA em ambientes virtualizados está acelerando ainda mais o crescimento do software.
Análise das Margens e Lucratividade
O Lucro Bruto cresceu 25,3%, com a margem bruta expandindo para 78%. Essa melhora foi impulsionada principalmente pelo mix mais favorável de software, que possui margens mais altas.
A companhia demonstrou disciplina exemplar nos custos: as despesas com vendas, gerais e administrativas (SG&A) foram reduzidas em 15%, enquanto os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) aumentaram 11,5%. Essa combinação de margem bruta maior e controle de despesas resultou em uma forte alavancagem operacional, elevando a margem operacional para 38,8% e a margem EBITDA para 53,3%.
Apesar do número expressivo, a margem EBITDA ficou 5,8% abaixo de nossa projeção. A indicação, ainda pendente da divulgação completa por segmentos, é que a margem da divisão de semicondutores foi mais baixa que o esperado. O motivo é que os contratos de aceleradores customizados de IA (XPU) com as hyperscalers (gigantes de tecnologia) tendem a ter margens menores.
Por outro lado, uma alíquota de imposto (Tax Rate) menor que a projetada ajudou a compensar esse efeito no resultado final, levando o lucro GAAP a ficar 6% acima tanto de nossa estimativa quanto do mercado. Nosso cálculo de lucro ajustado, que reverte a amortização de intangíveis, chegou a US$ 6,9 bilhões, 4,4% acima do que esperávamos.

O Motor do Crescimento: Semicondutores para Inteligência Artificial (IA)
O segmento de IA é, sem dúvida, o grande destaque. A companhia manteve um ritmo de crescimento de aproximadamente 60% no primeiro semestre de 2025 e projeta continuar nessa velocidade tanto no restante do ano fiscal quanto em 2026. Isso deve acelerar a receita consolidada de semicondutores de +17% neste trimestre para +25% no próximo.
A receita de IA da Broadcom é composta por duas frentes:
- Aceleradores Customizados de IA (XPU): Cresceram dois dígitos ano a ano.
- Equipamentos de Rede para IA (AI Network): Cresceram impressionantes 170% ano a ano, representando cerca de 40% da receita de IA no trimestre, com soluções baseadas em Ethernet.
No futuro, a expectativa é que a proporção se ajuste, com os aceleradores XPU customizados representando a maior parte da receita, e a área de networking contribuindo com 20-30%.
Nas palavras de Hock Tan, CEO da Broadcom: “O impulso continua com o switch Tomahawk 6, anunciado esta semana, que oferece uma capacidade de 102,4 terabits por segundo. (…) Continuamos a progredir significativamente na jornada para capacitar nossos clientes a implantar aceleradores de IA personalizados. (…) O que estamos vendo, com cada vez mais visibilidade, é uma maior implantação de XPUs no próximo ano, muito mais do que pensávamos originalmente.”

Scale Up vs. Scale Out
A Broadcom se beneficia de duas tendências cruciais nos data centers:
- Scale Up (Escala Vertical): Aumentar a potência de servidores individuais com mais memória e processamento. Isso eleva a densidade e exige conectividade e componentes de rede mais poderosos.
- Scale Out (Escala Horizontal): Adicionar mais servidores ao data center. Aqui, a Ethernet é a escolha dominante.
A surpresa positiva foi a força da demanda no Scale Up, onde a densidade de switches é de 5 a 10 vezes maior que no Scale Out. Isso explica por que a receita de redes para IA se manteve tão forte (40% do total de IA), contrariando a expectativa anterior de que essa participação diminuiria.
Guidance 2025
- Semicondutores Não-IA: Os segmentos de Networking e Broadband já mostram sinais de recuperação, enquanto Server Storage e Wireless permanecem estáveis. A expectativa é de uma receita estabilizada em torno de US$ 4 bilhões.
- Guidance para o Próximo Trimestre:
- Receita Consolidada: Crescimento de 21%.
- Semicondutores: Crescimento de 25%, puxado por IA (+60%).
- Software de Infraestrutura: Crescimento de 16%.
Saúde Financeira e Alocação de Capital
O fluxo de caixa livre (FCF) no trimestre foi de US$ 6,4 bilhões, representando 43% da receita. Este percentual continua a ser impactado pelas despesas com juros da dívida da aquisição da VMware e pelo aumento dos impostos.
A alavancagem da companhia está em 2,2x Dívida Líquida / EBITDA (nosso cálculo). O foco principal da alocação de capital, além dos dividendos e US$ 4,2 bilhões em recompras realizadas no trimestre, é reduzir essa alavancagem para um patamar abaixo de 2x.
Hock Tan também sinalizou a possibilidade de um futuro M&A (fusão ou aquisição) grande e relevante, que irá exigir o uso de dívida e deverá ter uma alta geração de caixa para permitir uma rápida desalavancagem.
Valuation: A Oportunidade Já Está no Preço?
Em nossa análise de valuation, projetamos um lucro ajustado (sem amortização de intangíveis) de US$ 30 bilhões para 2025.
Considerando o preço atual da ação em US$ 250, o papel negocia a aproximadamente 40 vezes esse lucro projetado. Este múltiplo elevado parece precificar uma expectativa de mercado bastante agressiva: a de que o lucro dobre para US$ 60 bilhões até 2028. Se essa meta for atingida, o múltiplo cairia para 20x em 2028, o que implicaria uma Taxa Interna de Retorno (TIR) de 9-10% ao ano para o investidor que compra agora.
Embora o crescimento seja inegável, o preço atual já reflete muito do otimismo. Vimos o papel negociar em patamares mais atrativos recentemente, entre US$ 160 e US$ 170, que representavam excelentes pontos de entrada, pois ofereciam uma margem de segurança maior caso o crescimento não atinja o cenário mais otimista.
Para uma entrada tática, um preço ao redor de US$ 200 por ação (equivalente a R$ 16 por BDR, a depender do câmbio) seria mais interessante. Nesse nível, a TIR potencial subiria para a faixa dos 17-18% (high teens), um retorno que, em nossa visão, justificaria melhor o risco do negócio. Continuamos a aprofundar nossa análise sobre os riscos e oportunidades.
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