
Mesmo com reação inicial negativa do mercado, Oracle reforça tese de crescimento estrutural com guidance ambicioso.
Apesar da reação inicial negativa do mercado aos resultados do terceiro trimestre fiscal de 2025, os números da Oracle seguem reverberando entre analistas e investidores atentos à mudança de ciclo da companhia. Em meio a um cenário ainda volátil, a empresa entregou margens sólidas, crescimento expressivo de receita a performar e reafirmou um guidance ambicioso para os próximos anos – reforçando a tese de aceleração estrutural impulsionada por cloud, parcerias estratégicas e inteligência artificial.
Embora os números tenham vindo mais fracos do que o esperado pelo mercado, o guidance foi excepcional. A ação chegou a subir +4% no aftermarket, mas inverteu e fechou em -6%. Sim, o mercado está mesmo “super pouco volátil.“
Neste momento, o mais relevante é evitar o ruído do curtíssimo prazo e observar com calma o cenário estrutural. Há fundamentos que indicam uma possível mudança de patamar para a companhia nos próximos três anos. Aqui, a questão é de timing, não de direção.
Resultados do Trimestre
A receita cresceu 6,4% (8% ex-FX), ficando 2,7% abaixo da nossa projeção e 1,7% abaixo do consenso de mercado. Após dois trimestres de recuperação — quando chegou a crescer 8,6% —, a companhia voltou a desacelerar.
O principal motor de crescimento, Cloud Services, registrou avanço de 22,9%, também 1,7% abaixo da nossa estimativa.
Outros segmentos também surpreenderam negativamente:
- Hardware: -7%
- License Support: -2,3%
- OnPrem License: -10,1%
Margens e Lucros
Apesar da queda na receita, as margens vieram em linha com o esperado:
- Operating Income: USD 4,4 bilhões (margem de 30,8%)
- EBITDA: USD 5,9 bilhões (margem de 41,8%)
Ambos os indicadores ficaram 2% abaixo da nossa expectativa, reflexo direto da menor receita. No entanto, os números mostram avanços relevantes YoY:
- +2,6 p.p. na margem operacional
- +1,8 p.p. na margem EBITDA
Com isso, o EBITDA cresceu 11,3% no 3T25.
Outro ponto positivo foi o imposto abaixo do projetado, o que levou a um lucro líquido de USD 2,9 bilhões, com alta de 22,3% YoY. A margem líquida ficou 1 p.p. acima da nossa previsão.

Receita a Performar (RPO) e Projeto Stargate
Um dos principais destaques está na Receita a Performar (RPO):
- Há um ano: USD 80 bilhões
- Atualmente: USD 130 bilhões
Isso representa um crescimento expressivo de 62% YoY, totalmente orgânico — sem efeito de M&As — e ainda sem considerar o impacto do projeto Stargate.
Durante o call, Larry Ellison reforçou que o Stargate poderá gerar aumentos ainda mais significativos no RPO nos próximos trimestres.

Um dado relevante ao observar o RPO é o percentual a ser reconhecido nos próximos 12 meses. Houve uma queda para 40%, mas, ainda assim, o crescimento do cRPO (current RPO) nos próximos 12 meses foi de +47%.


Guidance para FY26 e FY27
A Oracle confirmou guidance de 15% de crescimento para FY26, acima da média de 7% dos últimos anos.
Mais surpreendente ainda foi o guidance de +20% YoY para FY27.
Para uma empresa que cresceu, em média, 5% nos últimos 10 anos, essa aceleração representa uma mudança radical de ritmo.
Drivers Que Sustentam o Crescimento
O otimismo com a entrega desses resultados se apoia em fundamentos sólidos:
- O cRPO ainda não inclui o impacto do Stargate.
- A receita de IaaS cresce 49% YoY e representa cada vez mais o mix consolidado.
- A Oracle se posiciona como parceira das principais big techs de nuvem: AWS, Microsoft e Google.
Esse posicionamento é relevante, pois, segundo Larry Ellison, as clouds estão buscando oferecer serviços para clientes que utilizam Oracle Database — justamente por ser a maior base de dados do mundo, essencial para o treinamento de modelos de IA.
Um dado importante: AWS e Azure registram a receita da Oracle em seus resultados e depois repassam o valor líquido de sua margem. Isso evidencia uma relação mais cooperativa do que concorrencial.


SaaS, Capex e Infraestrutura Modular
Diferente das licenças, que apresentaram quedas relevantes neste trimestre, as receitas de SaaS Cloud seguem crescendo em ritmo de dois dígitos altos (“high teens”).
Além disso, a Oracle tem investido em servidores modulares — com arquitetura mais leve do que os das big techs —, que são instalados diretamente nos data centers das parceiras (AWS, Microsoft, Google). Isso permite um capex proporcionalmente menor e com alto impacto em escala.
O guidance de capex para FY25 foi revisto de USD 15 bilhões para USD 16 bilhões, após já ter sido elevado de USD 7 bilhões no início do ano — um movimento que mostra o nível de comprometimento com crescimento e entrega.

Valuation e Oportunidade
Aos preços atuais (USD 144), o papel oferece uma TIR estimada de 17%, considerando saída a 21x lucro em 2029.
Na comparação com Microsoft (cuja TIR é mais baixa devido ao valuation elevado) e Amazon (que possui múltiplos drivers como Ads e Commerce), a Oracle se apresenta como uma alternativa interessante e um play mais “puro” de infraestrutura de cloud.
Além disso, a liderança em base de dados é uma vantagem estratégica clara — que, diga-se de passagem, seria extremamente sinérgica com players como a Salesforce.


Destaques da Call • Larry Ellison
Sobre Database:
- “Agora os clientes podem obter nosso banco de dados em qualquer lugar: Azure, Google, AWS, OCI.”
- “Esse banco de dados armazena a maioria dos dados valiosos do mundo. É a maior base instalada do planeta. E agora está migrando para a nuvem.”
- “Com um clique, o novo Oracle Database 23 AI converte dados para formato vetorial, pronto para IA. Ninguém mais tem isso.”
Sobre Agentes e IA:
- “Existem milhões de bancos de dados Oracle no mundo. Todos esses dados serão usados para treinar IA e construir agentes.”
- “Nossos próprios aplicativos estão migrando para se tornarem uma rede de agentes de IA. E isso também acontecerá nas empresas dos nossos clientes.”
- “Esse mercado — em que nossos clientes constroem agentes de IA sobre seus próprios dados — é maior do que o mercado de treinamento de IA.”
- “No fim das contas, não será possível separar o que é receita de agentes e o que é receita de aplicativo. Tudo estará integrado.”


